Como Vim Parar Na Holanda - 4

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Não vou mentir, havia me acostumado muito rápido com a vida nova. Não por estar deslumbrada com o que tinha, mas por me sentir livre finalmente. Veja bem, eu cresci ao mesmo tempo super protegida, quanto super perdida quanto ao conceito do que era uma família. Algo que só fui definir na minha cabeça depois de "velha", quando percebi que família era parte da gente, mas não era a gente. Eu precisava entender que viver só dependia de mim e não do que acontecia ao meu redor. E acho que aprendi a lição. Já não participava inteiramente dos problemas da minha casa no Brasil, não dependia financeiramente de ninguém, meu trabalho era muito respeitado - experiência nova pra mim, diga-se de passagem - e eu tinha aprendido a me virar, viver sozinha, resolver meus problemas, conversar quando algo tivesse errado, sair sem destino, conversar com estranhos na rua quando fosse possível. Resolvi muitas pendências comigo mesma naquela época.

E pra piorar minha situação e o medo de voltar e ser a velha Bianca, estava namorando o cara que sempre pedi a Deus, companheiro, amigo, honesto, engraçado, que me respeita(va) e ama cozinhar? Como ir embora depois de ter dado um Duplo Twist Carpado a la Daiane dos Santos na minha vida todinha?

A ideia de ter de terminar meu namoro me atormentava, então decidi conversar com o @exyle sobre nosso futuro. Eu queria muito ficar com ele, mas sem depender dele.
Depois de muita conversa, decidimos aplicar para um visto de permanência chamado Partners, que nada mais é com um visto de namorados que moram juntos, mas sem nenhum compromisso matrimonial. Morar no Brasil era a última opção, já que ele tinha sua própria empresa e estava finalmente crescendo com ela, o que ele levou anos pra conseguir, e sozinho.
Bom, depois da decisão contei para meus hosts e eles ofereceram para que eu continuasse trabalhando com eles, e acabei aceitando ficar mais seis meses e trabalhando só alguns dias da semana. Tava tudo planejado e perfeito no papel.

Após algumas burocracias, documentos, provas de que podíamos aplicar para esse visto, fomos à imigração. Lembro muito bem que não estávamos muito confiantes, pois ele como companheiro precisava ter uma renda estável para ser meu responsável no país, e como eu disse, os negócios estavam finalmente crescendo, mas durante dois anos, o lucro/pagamento da empresa e dele, oscilou muito e isso não era o ideal. Mas, eu estava tão feliz de poder ter a chance de ficar com ele que eu nem me abati por isso, até que... De frente para a funcionária da imigração, esperamos enquanto ela conferia a documentação quando ela disse: todos os documentos estão ok, mas acho que vocês não vão conseguir, seu salário oscila muito nos teus holerites.
Naquele momento senti como se o chão tivesse desmoronado. Olhamos um para o outro contendo as lágrimas.
Não conseguíamos pensar em nada além de que aquele era o fim.

Fomos para a casa e durante semanas eu chorei o dia todo, todos os dias. Não conseguia acreditar que quando finalmente tinha encontrado um cara que me amava como eu o amava, não seria possível continuarmos juntos. Mas eu não podia deixar isso me separar dele, a gente teria de achar uma solução. Começamos então a planejar nosso futuro. Para onde eu iria, quando nos veríamos e quando tentaríamos de novo o visto.

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despedida de amigas em Julho de 2016

Avisei minha host family que eles poderiam procurar por outra pessoa, já que eu teria de voltar para o Brasil em breve.
Eu poderia esperar o processo do visto que dura por volta de três meses dentro do país. Mas como já "sabia" a resposta da imigração, comprei minha passagem de volta para o Brasil para 8 de dezembro de 2016.

Além de mim, Mark decidiu também ir para o Brasil e conhecer minha família. Era muito importante para nós que todos se conhecessem. Ele ficaria algumas semanas e eu voltaria para a Holanda três meses depois para visitá-lo, esse era o período mínimo para poder voltar para a Europa. Enquanto isso eu continuei trabalhando para meus hosts, aproveitando o restante do tempo com as crianças que naquela altura eu já amava demais.

Algumas amigas haviam voltado para o Brasil, outras estavam passando pelo mesmo processo de visto que eu. A cada carta da imigração com o visto aprovado delas, meu coração quebrava um pouquinho. Eu queria muito poder comemorar, mas estava extremamente triste por ter de voltar.

Sabendo que minha carta não chegaria, aproveitar para mandar as minhas, mas as de trabalho. Depois de vir pra cá aprendi que praticidade faz a diferença, então não perdi tempo e comecei a mandar currículos para vagas já no Brasil. Além de dinheiro eu iria precisar de algo que me distraísse, ou eu não saberia o que seria de mim de volta trancada no meu quarto.

[ continua no próximo post ]


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