A jornada do homem

Hoje vou me permitir aqui seguir um fluxo de consciência sem muita programação, apenas discorrendo um pouco a respeito de algumas percepções que venho tendo em relação a vida e ao rumo que busco como norte.

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Em tempos onde a simples menção de masculinidade pode gerar atritos e intolerâncias, sinto cada vez mais presente essa reconexão com meu próprio ser, coisa que tão pouco senti no passar dos anos anteriores. Acredito que posso servir como exemplo mediano de uma sociedade moderna. Sou a típica figura do ser humano masculino que não vivenciou sua própria potência graças ao sua cultura e seu modo de vida. São inúmeros fatores que nos levam a amenizar qualquer potencialização de nosso gênero (seja o masculino ou o feminino) e de fato evitarei aqui entrar em discussões a respeito de gramscismo cultural e toda essa investida pós moderna esquerdista alienante. Falo desse senso comum, do fluxo da vida, que acontece sem ninguém arquitetar.

Mesmo vivendo em uma cidade interiorana do Paraná, lado a lado com inúmeros colonos que tiveram seus filhos crescendo no fluxo natural do comportamento prático da espécie humana (ou seja, aprendendo usar o que tem para sobreviver, seja como for), cresci educado pela lógica de que vivemos em uma época diferente. Meus maiores desafios foram no video-game enquanto criança/pré-adolescente. Tive a "sorte" de uma vida estável e facilitada pelo cuidado materno. E até gostaria de detalhar aqui a questão de um pai presente/ausente e uma mãe criando um menino, mas não vou, por hora.

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Tive muito poucas investidas que condissessem com o conceito de "homem", e seja o que for, seja nadar num rio sem autorização dos pais, seja ir brincar de caçar no mato, seja brigar na escola, seja aprender cedo a fazer algo de útil com as mãos, enfim. O mais engraçado é que temos duas situações que brotam de um lar como este. Primeiro é que o ser humano dá seu jeito de encontrar caminhos, inconscientemente. Por que, meu impulso particular me levou a se tornar um desenhista, já com 10, 11 anos desenhando muito bem e sendo considerado "o melhor desenhista da escola" e blá blá blá. Impulsionei minha total dedicação para um caminho diferente. Da mesma forma dediquei-me a música, ao violão, aos livros e toda essa cultura que circunda esse mundo. Eu era um clássico fruto da pós modernidade. Não havia nada de errado nisso. Depois você descobre as redes sociais e descobre que existem um monte de jovens amenos, com aperto de mão mole, com camisa de filmes do Bergman e que no passado também tinham o Zelda: Ocarina of Time como melhor jogo da vida, jovens que viveram confinados felizes em meios culturais que os isolaram de desejos pelo impulso da vida, de instintos naturais, de relações com a terra e com a imprevisibilidade da existência. Está tudo bem.

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A outra questão, é que provavelmente haverá o tempo de redescoberta. O tempo em que as coisas mudam, o turning point. E eu passei por essa fase. A redescoberta da natureza primeiramente. Onde um desejo imenso de experimentar a vida, pisar na grama, fazer trilha, acampar, aprender a fazer uma boa fogueira, ter um facão afiado para abrir novos caminhos, identificar plantas no meio do mato, saber se nortear em um local totalmente novo e desconhecido, treinar o equilíbrio, a força e todas as destrezas que um "homem original" usaria numa época onde não haviam caminhos largos, apenas estreitos carreiros, as vezes lisos pelas chuvas e lama, as vezes difíceis de escalar, tendo que se pendurar em raízes para sustentar o corpo. Familiarizar-se com rios, cachoeiras, lagos.

Depois dessa fase de desbravamento, senti a necessidade de olhar para dentro e é aí que é mais complicado. Por que a masculinidade é pouquíssimo externa. Quando você faz um exame de consciência buscando seus pilares, para saber o quão sólidas são suas "verdades", as coisas se tornam mais sérias. Seja no sentido básico ainda relacionado aos hábitos e "skills" como: construir uma casinha de cachorro, e ir subindo até chegar no "como construir sua própria casa". Com o passar do tempo a necessidade de conseguir fazer as coisas pelo próprio conhecimento transcendem o "monte seu próprio computador com esse tutorial incrível", e isso é fascinante.

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As vezes a simples descoberta de como cortar uma árvore e tratar a madeira para conservá-la pode desencadear uma cascata de sinapses em seu ser. E ao confrontar-me com essas necessidades gritantes, foi impossível não pensar no próprio corpo, no desejo de vê-lo forte e funcionando, de trabalhar cada músculo, de sentir a exaustão física depois de uma caminhada ou uma "bicicletada" de 3, 4 horas. De fazer academia (ainda que essa hoje soe como um gritante pós modernismo de música estranha e gente de roupa colada), de testar a própria força e provar a si mesmo que você está usando o veículo da melhor forma possível.

E ainda tem o prazer único da família, da estrutura. De você ver que por mais clichê que sejam esses valores, pouca coisa é mais sólida e mais poderosa do que a realização da construção de uma família, de ver seu filho nascer e crescer. Um raio de esperança no caos de uma sociedade adoentada. Enquanto jovem eu tinha severas percepções a respeito disso e levava muito a sério o conceito da extinção voluntária, mas nada sabe a mente jovem, o fato é que quando se é vivo e lúcido, se faz o melhor indiferente da situação em que se vive, e você se espanta ao perceber que é capaz de tudo em nome daquilo que ama e acredita. E não existem limites para isso.

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A construção de um homem, naturalmente é muito mais profunda que esse pequeno exemplo que dei, eu sou um simples aspirante, um jovem indefeso na arte de ser homem. Mas sinto um prazer diário ao ver-me rumando destino ao modelo ancestral, forte, bárbaro, vitorioso de um homem com valores sólidos e sinceros. Onde pouquíssimo desse papo importa, onde todas as voltas e voltas que damos para ao menos tentar falar sobre o assunto são pura bobagem, já que o brilho da sabedoria presente nos olhos de um homem vivido não precisam de tradução alguma.


Fonte das imagens:
1, 2, 3, 4 e 5


Obrigado por ler!


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