CRÍTICA | Brightburn – Filho das Trevas

Ainda que eu esteja um pouquinho cansado de filmes de super-heróis, fiquei curioso com a proposta de Brightburn – Filho das Trevas. Eu sempre quis assistir filmes de super-heróis que utilizassem o cinema de gênero para dar algum aspecto de criatividade à narrativa. Então quando soube que esse filme seria como um “super-homem do mal”, fiquei animado. Mas será que valeu a pena?

Dizer que Brightburn é o super-homem do mal é apenas uma meia-verdade. Essa afirmação é verdadeira quanto à origem e poderes de ambos os personagens: um bebê alienígena humanóide que chega à Terra numa nave espacial e é adotado por um família amorosa do campo. As semelhanças, porém, acabam aí. Mas depois um retorno a esse assunto.


A gradatividade do mal é representada na quantidade e intensidade do vermelho que cerca Brandon

Brightburn tem
início animador enquanto terror. A direção de David Yarovesky consegue elaborar tensão gradativa através de
pequenos arcos narrativos além da relação entre os personagens, principalmente
através das cores. Nesse ponto, há méritos também do design de produção, que é
hábil em passar as informações básicas necessárias sobre o pai Kyle Breyer (David Denman) e, principalmente, a mãe Tori (Elizabeth Banks). A
câmera transita pelo quarto do casal e dá contexto, através do foco nos livros
sobre gravidez, ao momento romântico do casal que seria interrompido pela
chegada abrupta da nave. Além disso, as mechas roxas no cabelo da mãe sugerem
uma personalidade jovial, talvez transgressora e inconsequente (a partir da
ideia de uma cidade rural e, provavelmente, conservadora). Tudo isso, mostrado
rapidamente, parece querer dar coerência à “adoção” do filho espacial. Há até
mesmo uma “justificava religiosa” para indicar que os pais foram “escolhidos”:
“nós rezamos e pedimos para quem fosse um filho. Alguém escutou”, diz Tori. E a montagem também funciona bem
para mostrar a dinâmica amorosa da família.

Cerca de 10 anos depois, pouco antes de completar 12 anos, a
direção, o figurino e o design de produção focam na narrativa do jovem Brandon Breyer (_Jackson A. Dunn,_adequadamentemonotônico) a partir das cores de suas roupas. Com isso é interessante, e
razoavelmente envolvente, notar a construção do mal que possuirá Brandon e como isso muda sua relação com
a família e o ambiente. Num primeiro momento – no que viria a ser uma rima
quase descartável – o pré-adolescente aparece com um roupão azul claro da mãe –
cor que ela usa constantemente. Um sinal do envolvimento dela com o filho. O
azul também é presente na casa e escola de Brandon,
além de tons pastéis, muito comuns também nas roupas do pai. Aos poucos o vermelho
é introduzindo nessa narrativa, estabelecendo a relação entre alçapão do
celeiro (que guarda um “segredo”) que brilha em vermelho vivo e Brandon. Além, claro, de ser uma cor que
sugere urgência, alerta e, por que não, perversidade. O oposto do azul plácido
da mãe. Conforme Brandoné absorvido
pela maldade misteriosa, o azul das roupas começa a dar espaço para o vermelho.
A conexão que antes era com a mãe passa a mudar para o “segredo”. Primeiro em pequenas
coisas, como o capuz, a coberta que pouco o cobre ou a capa do caderno. Até ele
ser completamente envolvido pela cor: a coberta o cobre por inteiro, o casado é
todo vermelho. Isso não apenar demonstra visualmente como ele foi tomado pelo
mal, mas o destaca em relação aos cenários pastéis e azuis.

Mas depois que essa narrativa se completa, _Brightburn_entra num modo automático que, bem... não diz mais nada, não evolui. O que resta são momentos repetidos de terror visual sem qualquer motivação clara, desenvolvimento de personagem ou qualquer outra coisa que desse sentido à obra.

O terror que funcionava no começo, fica repetitivo
rapidamente ao utilizar basicamente a mesma forma mecânica de elaboração para
criar suspense: a vítima nota a presença de alguém, a câmera ou luzes escondem
essa presença e, quando retorna, não há mais ninguém lá. E poucos segundos
depois, ele surge repentinamente para concluir com um susto. Perdi as contas de
quantas vezes isso acontece no filme, mas rapidamente é possível começar a
antecipar os movimentos do personagem e a conclusão das sequências. Além disso,
a trilha sonora pouco valoriza o silêncio, sempre ajudando a antecipar o que
virá através dos acordes sinistros e graves. Tudo fica previsível.

Dentro dessa previsibilidade, o roteiro estabelece ironias
dramáticas (quando o espectador sabe algo que o personagem não sabe) que também
impedem que a cena atinja o teor dramático/climático que deseja. É o caso da
sequência do pai que é cuja conclusão é facilmente antecipada. Ou a da mãe que,
embora opte por manter a coerência, também é previsível. Em ambos momentos,
impera o anticlímax, ainda que a fotografia tente forçá-lo visualmente.

Assim resta ao filme focar no terror visual, mas nem ele é
tão inspirado assim, principalmente quando o CGI toma conta. Mas apesar disso,
ele ainda conseguiu me dar alguma aflição (principalmente na sequência do
olho).

Como disse antes, _Brightburn – Filho das Trevas_e as semelhanças com Super-Homem residem apenas na origem dos personagens. Seria mais interessante que nesse terror, houvesse também algum conflito que guiasse Brandon, tal como há com o Homem de Aço (ajudar ou não? O cuidado de viver num planeta frágil demais para ele. A solidão inerente à própria realidade, etc). O jovem apenas é e a partir do momento que ele “aceita” – a indica sugere que foi uma possessão, mas jamais sugere que ele busca o bem – esse mal, não há nada que o guie – embora o filme crie uma justificativa qualquer com o “tome o mundo”. Não há conflito, não há evolução, não há aprendizado, nada. São mortes e terror que se justificam com toda a eloquência adolescente de um “porque sim”.


Data de estreia: 23 de maio

Título Original: Brightburn

Gênero: Terror, Suspense, Super-HeróiDuração: 1h31Classificação: 16 anosPaís: Estados UnidosDireção: David YaroveskyRoteiro: Brian Gunn, Mark GunnEdição: Andrew S. Eisen, Peter GvozdasCinematografia: Michael Dallatorre Música: Tim WilliamsElenco: Elizabeth Banks, David Denman, Jackson A. Dunn, Emmie Hunter, Matt Jones, Meredith Hagner, Becky Wahlstrom, Gregory Alan Williams


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