Havendo canetas

Pelo menos, ainda vão havendo canetas! Eu queria...

"Aterrado", fiquei aterrado por não ter o que escrever e lembrei-me de uma ideia de há pouco - quanto mais nos sentimos aterrados, mais estamos dispostos a aterrar. O truque nas palavras é propositado e era essa mesma a reflexão da memória. Tinha pensado em escrever qualquer coisa nesses termos e, ao pegar no caderno, por ver o PC sem bateria com que pudesse carregar o telemóvel, que eu uso como despertador, que preciso para acordar a horas certas para não perder o emprego, que me há-de pagar o ordenado o primeiro ordenado no fim do mês, para poder, pelo menos, meter gasolina no carro, onde ainda vou ter de viver por, pelo menos, mais duas semanas - espera! Eu, eu queria...

Eu queria escrever! Eu queria escrever sobre "estar ATERRADO", submetido a si mesmo e da consequência desse estado de espírito. Não, também sobre a branca ao começar a escrever, de me questionar o que quero e começar outro sonho em mim e da sensação de que ainda não está feito porque ainda nem dinheiro para comer há. Eu queria não estar aterrado e comecei a reclamar da vida! Foda-se, não há condições!

Mas havendo canetas, sempre se pode distrair a atenção da experiência e trabalhar o estilo com que devemos tratar a nossa existência aqui na terra - afinal não nos esperam outros mundos que não este. Não se trata tanto de reclamar das desgraças, é mais uma questão de rentabilizar aquele ligeiro delírio da fome, ou talvez não, nem de distrair se trata - esse é o assunto, por estes dias - talvez seja só uma ideia antiga de escrever sobre... Caneta, eu acho!

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