Hipermodernidades 9 -

O capitalismo financeiro não vê para além do minuto. Falseia prognósticos, adultera perspectivas. Lucra contra tudo e contra todos. Não tem Estado, controla-os. Estimula concentrações de riqueza, produto de roubo institucionalizado.

O capitalismo financeiro ergue-se como quartel-general de todas as guerras, ocultando um qualquer herdeiro colectivo de um Hitler pré-globalista. O capitalismo financeiro é tão daltónico que não distingue outras cores senão a cor do dinheiro. Do dinheiro roubado às ilusões. Do dinheiro facilitado pelo intermediário do abuso. Do dinheiro escondido nos infernais paraísos que estão a incendiar o globo.

O Capitalismo financeiro não tem tempo. Mas exige a totalidade do tempo dos trabalhadores. Exige a flexibilização dos horários de trabalho, do despedimento, dos salários. O capitalismo financeiro na era hipermoderna quer flexibilizar a paisagem humana à sua volta, à sua medida, até à paralisação do gelo e da morte. Por outro lado, alimenta muito bem os seus propagandistas através da ecranização global desta sociedade de rupturas. Estimulando com o luxo prometido a traição aos mais elementares direitos humanos que, para as suas estruturas cerebrais, não passam de lirismos de uma ideologia a abater.

O refrão da rentabilidade, do crescimento a qualquer preço e da urgência sustentam um plano infindável de «reformas» até à exaustão dos povos para que a debilidade da luta deixe o campo aberto à vilipendiação do planeta.

O neoliberalismo fomenta o «presentismo», destruindo todas as escalas do tempo. É um vírus que destrói todo o esforço feito pela civilização. Em nome do lucro fácil e imediato destruíram-se postos de trabalho, precarizou-se a subsistência, eternizou-se o desemprego como ferramenta de manipulação contra as populações famintas em nome de um falacioso argumento de que estávamos todos a viver acima das nossas possibilidades. Como se fossemos inconscientes na gestão dos nossos recursos. Mas foram os Estados ocidentais, sustentados no capitalismo financeiro do neoliberalismo feroz e na corrupção dos seus líderes, que viveu acima das suas possibilidades. Nada mais lhes restava do que acusar os cidadãos de tal desmando e devassidão.

É uma guerra que mata mais do que qualquer outra guerra da História. E os seus generais não usam fardas camufladas, mas camuflam com as suas gravatas berrantes, como ícone de boa educação civilizacional, a destruição do bem-estar em modo contínuo. Para eles há muita gente a viver acima do que lhes é permitido, consumindo o que a eles «pertence». Sabem que o planeta não é inesgotável e, nesse sentido, lançam diariamente programas de morte a médio prazo numa carnificina faminta global que coloca o nazismo como uma diatribe perdida na história do século passado.

Assistimos ao paradoxo da indiferença, da desistência, da anti-luta; aceita-se a insegurança para uma vida inteira. O futuro deixa de ser uma perspectiva para ser epílogo de uma existência miserável. Os padrões do Ocidente e desta União Europeia foram decalcados da mais atroz estratégia das máfias mundiais. Os Estados do Ocidente mafializaram-se e em nome da protecção que prometem aos cidadãos extorquem-lhes o dinheiro, o benefício de uma vida de trabalho. Infantilizaram os povos para lhes roubar a existência e até mesmo a identidade, e o bem-estar a que têm direito.

A pornografia do Estado controlado pelo capitalismo financeiro impôs-se à ética dos bons costumes, à solidariedade entre povos, à defesa do planeta, à saúde global da convivência.

Este ambiente civilizacional dá entrada em cena ao mais pérfido dos medos, à insegurança constante, ao terrorismo de colarinho branco. A insensatez pela catástrofe, pelas epidemias, pela morte anunciada nas zonas do globo onde os seus planos de destruição tiveram êxito pleno mostra bem a frieza vampírica de quem tomou o poder através dos mecanismos ingénuos da democracia, pervertendo-a à sua medida. Quanto mais a ignorância for fomentada mais se eternizam no poder. E as populações ignaras aceitam de cabeça baixa esta afronta à sua existência a troco de folhetins televisivos opiáceos que os fazem sonhar com uma vida plena numa patética reencarnação futura.

Destruíram-se as conquistas sociais, não se limitaram os danos para que o fogo-de-artifício continue a iluminar os jardins exóticos dos proxenetas do Estado.

A doença psicológica é hoje a apoteose das farmacêuticas, o braço armado deste programa de destruição da crença em si das populações. O consumo excessivo de tranquilizantes como panaceia de todos os males deixa os cidadãos fora de combate e alheados na sua dormência do funeral que se lhes prepara minuciosamente.

A euforia do Estado é hoje premiada com os glóbulos oculares (banhados a ouro) arrancados aos cidadãos que, cegos, deixam de perceber que os agiotas de Estado já comemoram a sua morte na ignara escuridão.

É contra este estado a que o Estado chegou que temos a obrigação ética de lutar com todas as ferramentas que a hipermodernidade criou para nos derrotar.

Luís Filipe Sarmento, Gabinete de Curiosidades, 2017

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Foto: José Lorvão

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