O que eu tenho a dizer sobre a amamentação

Tudo o que envolve o mundo materno me atrai. Sempre estou lendo, estudando e tenho em mim um instinto materno muito aflorado, gosto de conversar com as pessoas sobre filhos, sobre gravidez, sobre educação... É onde me encontro. Posso afirmar que este lado sempre foi muito intenso na minha personalidade, e mesmo antes de engravidar da Clarice já me emocionava com qualquer assunto relacionado à gravidez, parto, amamentação etc.

Quando engravidei isto ficou mais forte ainda e pesquisei muito, li muito e me informei todo o necessário para que tudo ocorresse do modo "certo". Mas hoje vou tratar especificamente sobre como foi a amamentação da Clarice e de como isto modificou minha vida.

Quando eu estava com mais ou menos cinco meses de gravidez, o leite começou a ser "fabricado" em meus peitos e era engraçado porque ele já começava a descer quando eu via/ouvia uma criança chorando, quando via algum filme emocionante ou quando eu ficava muito feliz.

A Clarice nasceu de parto normal e isto faz com que a amamentação seja mais facilitada pelo fato dos hormônios estarem mais aflorados em conjunto com o trabalho de parto e o corpo "entenda" que é preciso produzir o leite em maior quantidade a partir daquele momento. Então, a medida que as contrações se intensificavam, os meus peitos iam produzindo cada vez mais o colostro, que é basicamente o primeiro leite, mais transparente em sua maioria, mas dependendo da mulher pode ter uma coloração mais amarelada. Ele é muito rico em anticorpos que auxiliam o sistema imunológico do bebê a se reforçar e também contém mais sais minerais e proteínas. Após uns sete dias o "leite maduro" desce e este último é mais gorduroso e garante a alimentação completa do bebê até os seis meses de idade.

Logo que a Clarice nasceu e fez alguns procedimentos pediátricos, foi para o meu colo e já iniciamos a amamentação. Tive a ajuda de uma enfermeira muito querida que me ensinou com a "pega correta" da boca do bebê porque caso ele sugue errado, pode comprometer a amamentação e fazer feridas nos seios. Apesar de sempre encaixar certinho a boca da bebê nos meus seios, ainda assim no segundo dia meus seios começaram a rachar e sangrar. Minha preocupação maior era porque a Clarice estava mamando sangue junto com o colostro! E fora a dor lancinante que eu nunca vou me esquecer...

Saímos do hospital e ela mamava muito e graças a Deus eu sempre tive muito leite. Tanto que com exatos quarenta dias eu tive mastite por excesso de leite, o que acarreta um entupimento dos dutos mamários e em algumas mulheres chega a infeccionar. Por sorte eu fui medicada antes de piorar, mas tive bastante febre e muita, mas muita dor. Posso afirmar que senti mais dor nos meus dias de mastite do que no parto.

Passado essa angústia veio outro problema, o diagnóstico de APLV (alergia à proteína do leite) e ela tinha as crises alérgicas através do que eu ingeria e passava para o leite materno, o que resultou numa dieta super rigorosa da minha parte e da dela, após os seus seis meses quando iniciou a introdução alimentar.

A Clarice sempre mamou muito, muito. Eu tentava oferecer alguns leites especiais sem a proteína para ela porque às vezes me sentia cansada com toda a dieta e uma rotina de amamentar praticamente em todas as 24h do dia. Mas ela sempre, sempre rejeitou. Assim como rejeitou a chupeta.

Mesmo quando já tinha idade suficiente para se alimentar, nunca trocou o leite materno por nada.
Estava sempre mamando. Sempre. Se estava com fome, mamava; se estava chorando, mamava; se estava feliz, mamava. Até para comemorar algo ela corria mamar.

E isto gera um cansaço mental e corporal sem fim! É preciso ter uma atenção redobrada na alimentação para que seja suficiente para nutrir o seu corpo e o leite para o filho. Emagreci bastante, principalmente por conta da dieta. Foi uma fase bem difícil.

E quando os dentinhos nasceram... Cada mordida eu ia até a Lua e voltava...

Tivemos nossa rotina de amamentação durante os dois primeiros anos da Clarice, quando decidi, por questões de saúde, cortar este laço. E não foi fácil, tanto fisicamente quanto psicologicamente, tanto da minha parte quanto da dela. Como eu não posso tomar anticoncepcional que "seque" o leite, eu tive que aguardar a produção parar sozinha e isso rendeu mais um início de mastite... Mais dores intensas por dias... E ainda tinha a dor de não termos mais aquele contato diário, parecia que eu mesma havia tirado um pedaço de mim. Um pedaço que fazia e ainda faz muita falta.

Com a amamentação da Clarice eu comecei a ter um sentimento diferente com relação ao meu corpo. Um corpo que já foi uma casa para outro ser e que, posterior a isso, também foi uma fonte do melhor de todos os alimentos do mundo. A valorização de meu corpo como sagrado passou a fazer mais sentido depois de toda a minha experiência materna. Não só por todas as belezas que ele proporcionou ao gerar uma vida, mas também por todos os sacrifícios que foram necessários para tal. Sentir a primeira contração, assim como sentir o leite descendo e nutrindo minha filha da forma mais pura possível, foi um encontro direto com o Sagrado e ao mesmo tempo com o lado instintivo de uma maneira que nem Jack London poderia prever.

A amamentação, assim como todo o resto que a maternidade traz consigo, são, acredito eu, as melhores coisas que uma mulher pode experimentar em vida. O poder de criar e cuidar em seu sentido mais genuíno... É como se tivéssemos em nós uma partezinha do poder de criação, de cura e de zelo que somente as mãos de Deus dispõem.

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Young Mother nursing her Child, Jeune Mère.

Obrigada pela leitura. Abraços, Carol <3

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