Porque eu larguei o mestrado e o que eu gostaria de dizer para quem quer fazer um

Assim como milhares de graduandos, quando concluí o curso já tinha em mente a ideia de fazer um mestrado. Foram 4 tentativas em 3 diferentes instituições. Depois de 7 fucking anos, na 5ª tentativa passei. Eu quis tanto isso que nem acreditei quando fui selecionada, comemorei muito, até chorei de emoção. Mas alegria é uma coisa que dura pouco né.

2 meses depois do início do curso eu já tinha crise de pânico quando tinha que ir para a universidade. 6 meses depois eu já não entendia mais nada sobre o meu próprio projeto. 8 meses e eu me sentia a pessoa mais burra, incompetente e fracassada do universo. 12 meses depois veio a desistência. Um gosto de fracasso que demorou a passar, eu confesso.

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Hoje, passados 6 meses, estou bem, recobrei minha saúde mental e penso futuramente em tentar de novo, mas nesta penosa jornada aprendi algumas coisas valiosas, que servirão para mim mesma e que eu gostaria de compartilhar com quem pretende seguir esse caminho acadêmico. Dizem que os programas da área de exatas e biológicas não são tão diabólicos assim. Espero que não sejam mesmo, mas para quem estiver pensando em algo na área de humanas, eu recomendo fortemente que se prepare psicologicamente. Vamos às dicas.

Na seleção (além de todo o básico para passar, claro):

  • Tenha em mente que sua capacidade e seu conhecimento são muito importantes sim... tanto quanto sua habilidade em cair nas graças do seu(sua) pretenso(a) orientador(a).
  • Se possível faça algumas disciplinas como aluno(a) especial, assim você consegue perceber melhor o tipão dos(as) professores(as) e do curso, antes de assumir um compromisso que dura no mínimo 2 anos.
  • Estude o currículo lattes de todos os(as) orientadores(as) disponíveis no edital. Procure aquele(a) que pesquise temas do seu interesse no geral. Assim, caso você tenha que mudar o seu projeto, ele não sai muito do seu raio de interesse e motivação.
  • Além dos temas do seu interesse, procure descobrir quais os pressupostos epistemológicos que esse(a) professor(a) segue. Não adianta vocês gostarem do mesmo tema se cada um tem uma visão completamente oposta à do outro sobre o mesmo assunto.
  • Para a prova, além do material sugerido, leia também as produções dos(as) docentes do curso, principalmente do(a) seu(sua) pretenso(a) orientador(a). Se possível cite-os(as) na prova como fundamentação teórica das suas respostas, eles(as) não resistem a um(a) aluno(a) que os(as) admire intelectualmente e que se posicione como um aliado leal, defensor e propagador de suas idéias.

No curso:

  • Entenda desde o início que uma das suas principais funções é manter em equilíbrio o ego e o humor do(a) seu(sua) orientador(a). Todo o resto é consequência dessa primeira etapa.
  • Perceba o quanto antes qual é a corrente ideológica predominante no curso (entre professores e alunos), se aproprie dela o quanto antes para não ser o(a) E.T. do curso.
  • Participe das discussões por mais sem sentido que elas sejam. Mas tome o cuidado para não se ser sincero(a) demais e dizer algo que vá contra os princípios ideológicos que predominam no curso. Isso evita que você seja alvo de preconceito nos meses em que irá conviver com essas pessoas.
  • Se você for ler realmente tudo que mandam você ler, você não vai mais ter vida própria. Aprenda a discernir o que faz sentido para o seu projeto, o restante busque na internet material como resenhas, resumos, videos e outros tipos de materiais complementares que te deem uma noção do que se trata, assim você consegue participar das discussões e não fica feio para você.
  • Esteja preparado(a) para que seu projeto vire um frankenstein, uma criatura estranha que você não reconhece mas cujo(a) criador(a) é você mesmo(a).
  • Saiba que praticamente todos(as) os(as) seus(suas) colegas estão se sentindo burros(as) e incompetentes, que essa sensação não é exclusiva sua.
  • E por fim, e o mais importante na minha opinião: não leve para o lado pessoal todo o mal que seu(sua) orientador(a) fizer para você. Ele(a) na verdade não tem nada contra você ou contra o seu projeto. Mas ele(a) é produto de um meio extremamente egóico, meritocrático (no pior sentido do termo), competitivo, regulador, vaidoso e soberbo, que é o meio acadêmico e científico.

Então, nada mais natural que sua orientação do mestrado ou doutorado seja baseada em princípios que tiram a sua paz de espírito, o seu sono e a sua auto-estima Isso sem contar com o estresse que é viver preocupado com milhões de mediocridades acadêmicas.E por mais medíocres que sejam, você precisa se adequar a todas elas se quiser ser aceito nessa comunidade tão fechada e excludente.

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A gente ri e faz meme porque somos brasileiros, e por aqui sabemos que a zoeira never ends, mas o assunto é seríssimo e já vem sendo tema de pesquisa e debate entre acadêmicos. Longe de mim querer desmotivar alguém, até porque eu mesma estou reunindo forças para encarar de novo esse desafio. Mas eu realmente gostaria de ter sido mais realista ter romantizado menos o mestrado. Me sinto na obrigação de fazer o que eu gostaria que tivessem feito por mim, e por isso escrevi esse post. Muito mais como um alerta do que como uma objeção.

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