Despiratalização

Tenho pensado nestas frases que têm se tornado comum nas redes sociais, dizendo de uma forma geral: “Você não pode exigir o fim da corrupção enquanto ainda faz parte de uma cultura corrupta”. Essa percepção vem se tornando comum, o que é muito, muito bom. Aliás, o que me motivou a escrever este texto, foi a frase:

“Antes de exigir o fim da corrupção lembre-se: Seu Windows é pirata…”

Achei isso de uma força tão grande, tão sincero e simples que na hora me fez iniciar uma pesquisa investigativa sobre o tema, mas que ainda está apenas no começo e espero que a própria produção deste texto, possa me trazer uma visão mais ampla sobre o assunto. Mas, o que posso deixar claro prontamente é: Na medida que nos aprofundamos na busca pela ética e moral, fica cada vez mais desconfortável se perceber sendo alguém corrupto. E não, não estou sendo exagerado em considerar fatos comuns da nossa cultura como sendo corrupções crassas, intensas e extremamente negativas, a começar pelo simples exemplo do Windows pirata. Eu aposto que noventa por cento das pessoas que lerão esse texto (se não mais) utilizam uma cópia pirata do Windows em seu computador assim como uma cópia pirata do Office, pode ser que você (ou seu mecanismo de defesa do ego atire logo de cara: “Mas nem entendo disso, mandei formatar e veio assim”).
Bem, isso não é desculpa. E por aí, pelo simples uso do computador podemos ver o quão complexo é o intento de não ser corrupto nas pequenas grandes coisas. Pois acima de tudo, isso exige uma reeducação, uma compreensão de que o gasto a mais, observado no contexto completo é na verdade um gasto menor e que trará mais funcionamento para o sistema completo.

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Estamos fadados a pensar errado a situação financeira e o padrão capitalista. Só entendo agora essa ideia da fartura grupal ser o caminho para a fartura pessoal e não sei se sou capaz de provar para vocês, pelo meu baixo nível de conhecimento em questões econômico-sociais. Vamos falar diretamente da Economia num ângulo mais amplo, não apenas no sentido financeiro. Existe uma compreensão bastante efetiva sobre o conceito da lei de causa e efeito. Costumamos apelidá-la de Karma, Carma, efeito bumerangue, efeito borboleta, entre outras variantes que mudam também o verdadeiro sentido do conceito. A lei de causa e efeito é muito lembrada e percebida em situações de grande impacto. Por algum motivo não muito claro, temos uma ideia que quase faz parte do inconsciente coletivo de que isso só se aplica em questões que envolvem gravidade, tais quais: matar/morrer/causar dano ou mesmo ações positivas, porém mais diretas e impactantes, tais quais: ajudar alguém de forma direta, salvar alguém, etc. Nada mais errado. É muito claro que dentro de uma visão mais cética e realista, a causa e efeito é um sistema mais complexo do que prevê as ideologias nova era e não necessariamente ligado a qualquer conceito sobrenatural. De forma que, enquanto vivermos em mentiras brancas, pequenas corrupções suaves e que não machucam ninguém (que você perceba), estamos pilhando a causa e efeito mesmo que inconscientemente, adubando atitudes corruptas mentais que fortalecerão um padrão comportamental provavelmente doentio, ponto por ponto até nos sobrecarregarmos, como já está claro que fazemos e sempre fizemos. E o mais interessante, é que quando estas questões se aplicam a enganar sistemas, padrões e governos, isso atinge não apenas nossa ética pessoal e honra, mas um mecanismo inteiro que operará diferente, para pior, graças a seus atos, que mesmo pequenos, ajudam o mar de corrupção.

O que nos faz entrar então em outro pequeno ponto importante: A falsa percepção de que não fazemos (ou não deveríamos) fazer parte do “sistema”. E isso é bem recente para mim, eu ainda não gosto dele, acho que ninguém gosta. Isso torna ainda mais grave a situação. Sendo fato de que estamos inseridos nesta organização (social, democrática, capitalista, humana) e não adianta fugir para as colinas (não da forma utópica que em geral este tema costuma abordar) deveríamos começar a questionar o que é que vem acontecendo para que desejemos tanto o fim desse sistema. O que falta, claramente é a verdadeira união com tudo que nos rodeia e que fazemos parte. Essa separação do homem é crônica e já é muito batida na filosofia e na psicologia, mas precisa agora ser repensada dentro de nossos paradigmasl. Afinal, maturidade mínima é compreender o conceito da minipeça dentro do maximecanismo. Eu ainda estou em fase de teoria e pré-experimentação, mas sei, que quando me propor a praticar e vivenciar o fim da heterocorrupção e da autocorrupção, compreenderei o sistema de uma forma diferente. No momento que aceitarmos que o investimento é para nós e que não é apenas para enriquecer o próximo, as coisas tenderão a fazer mais sentido. Estamos fazendo prosperar algo que faz parte de nós, algo que nos agrada e que a gente quer ver dar certo, correto? É tão claro, claríssimo compreender que o sistema não funciona simplesmente por causa do ego, e isso, por mais esotérico com cara de autoajuda que possa parecer, é a verdade básica por trás de toda a situação.

Nós só queremos ver nosso “umbigo” prosperar, na melhor das hipóteses, estamos desejando o crescimento dos amigos e dos familiares. E isso nos mantém no pequeno círculo, naturalmente o primeiro interesse primitivo e fundamental. O desafio é ver e viver a ética universal, o conceito de compreender todos como parte importante de você, entender que você só vai funcionar plenamente quando todos que interagem funcionarem plenamente. Enquanto isso não é possível, precisamos ao menos exercitar essa ideia, este plano. Isso não é uma utopia socialista/comunista nem nova era, longe de mim! Sou lúcido o suficiente para compreender com clareza a impossibilidade de paz no planeta na nossa atual situação, mas penso que de certa forma, certos mecanismos, operados globalmente e sendo uteis para todos (como por exemplo nossas queridas criptomoedas, a blockchain, etc) fazem essa distância monstruosa e violenta diminuir. Apenas um prenuncio de um distante futuro de pelo menos tolerância universal.

O simples ato de praticar um arremedo ainda que informal e mal organizado do desejo de vivenciar esta ética universal já faz muito por nosso desejo de crescimento, ou seja, pelo pensamento de comunidade, do sistema, do local, do todo. Mas a "despiratalização" proposta no título é apenas um fragmento desse plano do que considero o fim da corrupção. Como temos que começar de mansinho, pensei em propor esse exercício. Que tal então, se dispor a analisar e quantificar tudo que você faz que envolve o contexto “pirataria”?

Aqui podemos incluir já de cara:

Sistema do computador. Você usa Windows pirata? Baixado da internet, comprado de camelô, instalado “inocentemente” em alguma loja de formatação?

Programas de computador. Utiliza programas piratas como o pacote Office, programas de edição gráfica como o Corel Draw o Photoshop ou qualquer outro que não seja original e comprado com seu dinheiro?

Entretenimento. Você usa o sistema de downloads ilegais, tanto para músicas e jogos quanto para filmes? Por exemplo, o programa torrent?

Made in China. Você ainda compra artigos piratas, tais como roupas, cds, filmes, objetos?

Roubo de sinal. Você faz uso de sistemas ilegais de recepção de satélite, tais como o famoso “sky gato”?

Os exemplos são muitos, mas com essa pequena lista, acredito que fique claro a quantidade de atos ilegais feitos apenas partindo dessa relação de dinheiro e pirataria. O interessante é compreender que isso não é o único modo de se ter as coisas. Por que é que você aceita resignado o fato de que precisa gastar 190 reais em um tênis que as vezes não dura mais do que um ano e meio, mas acha um absurdo pagar 350 reais (mais ou menos) em uma cópia original do Windows? Sendo que este, você usa certamente mais do que o tênis? Ou uma pessoa que trabalha com edição gráfica, criação de arte e design. Por que não está incluso em seu custo anual, bem homogeneizado para não pesar, o custo de um programa original de criação gráfica? Estamos ok em relação a pagar certas coisas, mas criou-se uma cultura sobre que outras, jamais nem mesmo pensamos em relacionar com dinheiro. Talvez por que não são físicas, palpáveis… Em tempos de Netflix tornou-se bobagem ir até a locadora, vejam que o download ilegal de filmes existe desde muito, muito antes do Netflix, mas este não é para todos, até por que é necessário um conhecimento no mínimo médio para baixar um filme corretamente (sem pegar vírus), numa versão aceitável (ainda mais vivendo numa cultura onde o nível de leitura do público não consegue acompanhar a velocidade das legendas e então não compreendem o filme, de forma que só querem filmes dublados). O sistema de assistir online trouxe uma facilidade muito agradável e positiva para a internet, e junto com esta, ou mesmo antes dessa, existem os sites de filmes online ilegais, piratas, que nem mesmo saíram oficialmente, como o Popcorn Time. Será que é tão doloroso assim pagar vinte reais por mês para ter acesso a uma infinidade de séries de ótima qualidade, documentários extremamente positivos e importantes e filmes variando desde clássicos obscuros até blockbusters atuais? Por que não podemos pensar um pouco melhor antes de simplesmente negar estas hipóteses?

E quanto ao Windows pirata? Ok, você realmente não pode gastar quase 400 reais agora em um sistema de computador que esteve acostumado a utilizar ilegalmente todo o tempo em que a informática fez parte de sua vida. Mas será que então, dado a possibilidade de que você está incomodado em de fato estar sendo corrupto, você se prontificaria em ao menos tentar uma solução? Sim, existem alternativas. E de forma geral o método mais prático chama-se Linux, com centenas de variantes para agradar todo mundo. Que o Linux não é muito fácil, isso não é novidade. Mas que é sim um sistema inteligentíssimo, muitas vezes superior ao Windows e totalmente gratuito, livre, isso não se discute. Será necessário sim um estudo prévio para compreender o sistema e não se estressar com ele, já que você estará criando expectativas de Windows em um outro sistema. Mas será que a primeira vez que você mexeu num sistema Windows, você entendeu-o prontamente? A pergunta correta então volta a ser: -Você está pronto a sair da zona de conforto em nome da limpeza da sua corrupção?

Estes são apenas alguns questionamentos a respeito dessa ideia que pode ser muito expandida, na medida que minha pesquisa se aprofundar. Até lá, espero que ela possa ao menos causar uma pulga atrás da orelha em alguns de vocês. Naturalmente, este tipo de questionamento ou racionalização é para poucos. Em tempos de crise e em tempos da lei do ego, compreendo claramente que esta não é uma prioridade para a grande massa, e nem espero que seja, tudo tem seu tempo. O que sei, é que para mim, esta ideia tem se tornado cada vez mais atual e verdadeira, e só de racionalizá-la e estudá-la, já sinto que é um caminho verdadeiro. Só saberemos seus efeitos imediatos e de longo prazo quando efetivamente vivenciarmos essa limpeza de um dos maiores defeitos de nossa raça. O ego corrupto.

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