A minha passagem de volta para o Brasil estava marcada para sábado, 8 de outubro de 2011 com chegada no dia seguinte no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. O meu aniversário de 30 anos era no dia 6, então eu decidi comemorar intensamente e no dia 7 finalizar com a minha festa de despedida.
No primeiro dia do mês, eu almocei com o Gianluca num restaurante turco. No segundo dia, eu encontrei algumas amigas num pub em Soho. No dia seguinte, eu gastei a minhas últimas libras comprando um presente para mim. No quarto dia, eu fui a um show de reggae no Jazz Cafe, em Camden Town. No dia seguinte, eu comecei a arrumar as malas, mas fui interrompida com uma proposta do Abner.
“Que tal um último churrasco?”
O meu aniversário, eu comemorei com uma festa em casa, com todos os moradores da Unit G. O Abner, o Gianluca e o Sam me presentearam com garrafas de champanhe e cava, mas como não cabiam na mala, eu tive que abrir todas e beber com eles.
No meu último dia em Londres, a festa de despedida foi no Finsbury Pub. Nós estávamos em um grupo de 30 pessoas e o Will foi o DJ da noite. A música atraiu as pessoas que caminhavam na Green Lanes e pela primeira vez em anos, o pub lotou. O proprietário ficou tão feliz que estendeu o horário de fechamento para às duas e meia da manhã.
Depois, nós continuamos celebrando na cozinha da Unit G, com muita cerveja, vinho e cachaça. Às três e meia da manhã o Sam teve uma ideia.
“Vamos dançar e cantar Michael Jackson no Wii?” Ele disse sobre um jogo de videogame.
A festa acabou às cinco da manhã. O meu despertador tocou às 10h30. Mesmo de ressaca, o Abner, o Gianluca, a Orsi, o Sam, a Paty e a Marina acordaram para se despedir.
“Nós vamos sentir muito a sua falta,” a Orsi disse ao me abraçar.
Eu chorava, mas respirei fundo, entrei no taxi e parti.
Meses depois, eu liguei para o Gianluca pelo Skype.
“Eu nunca tinha visto uma despedida como a sua. A Unit G ficou em silêncio por dois dias. Ninguém saiu dos quartos, ninguém queria conversar. Nós vivemos um luto. Você foi embora e sua alegria também partiu.”
Eu morei no Rio de Janeiro por dois anos. Eu me sentia a paulista mais carioca de todos os tempos, porém, algo me dizia que a minha experiência em Londres não tinha terminado. Em abril de 2014, eu voltei para a Inglaterra.
Escrever e publicar este livro foi um grande desafio para mim. Eu lia e relia histórias que eu escrevi 10 anos atrás e pensava: ’Isso parece tão bobo, será que vale a pena publicar?’ - mas eu não deixei meus medos me dominarem. Eu segui o conselho do Abner: “Liberte-se. Publique o livro.”
Talvez este livro não seja o melhor que você já leu, mas sempre será o mais importante para mim.
Abner, meu amigo, eu me libertei.
