O desenvolvimento de uma pessoa cercada por narcisistas

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Descobri agora, no banho, porque que eu só valorizei relacionamentos de namoro na vida.

Na minha família por parte de pai, eu sempre fui visto como indesejado, por ser adotado. Na minha família por parte de mãe, eu sempre fui visto como vagabundo, por não conseguir me adaptar ao sistema de ensino e às expectativas sociais. Então minha família toda nunca gostou de mim.

Na escola, eu era visto como o estranho, o evitável, o cara que sofre preconceito social de geral. Cos cursos de inteligência que eu fazia, tipo o de inglês, como eu era muito avançado, eu era visto como aberração. Na faculdade, como eu nunca me encaixei, eu continuei sem me encaixar, e não consegui criar laços com ninguém, especialmente porque a faculdade tinha um ritmo muito lerdo.

As únicas pessoas que gostavam de mim e que me fizeram me sentir querido foram as que namoraram comigo. Todo mundo que eu considerava amigo me descartava com facilidade, tanto na adolescência quanto já adulto. Traíam minha amizade por pouca coisa, destruíam as outras amizades que eu tinha com o grupo pra me isolarem, e quem estava ao redor só olhava isso acontecer.

Então eu sempre fui descartável e de fato fui descartado por todo mundo com quem me envolvi, menos quem namorou comigo. Eu só comecei a descobrir a sensação que existe gente que gosta da minha companhia sem ser minha namorada quando eu conheci três amigos meus mais ou menos na mesma época, em jogos online. E isso foi depois dos 23 anos de idade.

Com garotas que gostavam da minha companhia, como eu aprendi que só gostavam de mim se tivessem interesse romântico em mim, eu descartei a possibilidade de gostarem mesmo da minha amizade. E com garotos também. Mesmo com esses três de quem falei, eu demorei muito tempo pra aceitar que eles são mesmo pessoas que eu posso chamar de amigos. Anos mesmo. Há só uns 2 ou 3 anos que eu percebi que eles são mesmo meus amigos.

Por toda essa experiência negativa e porque o pouco de experiência positiva foi muito específica, eu tinha medo de que, como sempre, me usassem e me descartariam caso não tivessem interesse romântico em mim. E que, mesmo se tivessem, se eu não fosse namorado, já seria o suficiente pra me descartar, o que me aconteceu todas as vezes no passado.

Eu nem sabia que existia a possibilidade de outras pessoas realmente quererem a minha companhia sem interesse romântico ou sem interesse utilitário, porque eu cresci sem conhecer isso. Tanto que sempre achei que quando alguém gostava de mim como amizade, eu tinha certeza que a pessoa tinha objetivos românticos.

Eu sempre "soube" que eu nunca tinha valor pros outros como amigo ou como companhia, etc. Foi o que me foi ensinado. Então, se eu quisesse companhia, alguém que não me deixasse! Para mim, só poderia vir isso de uma namorada.

Aprendi a tática, "vou terminar com você e se você não insistir em me namorar então quer dizer que eu era descartável e você só estava me usando". Apliquei com todas as garotas com quem me envolvi. E eu só entendi isso agora. Que não é assim.

Existe gente que vai querer minha companhia mesmo sem ter nada romântico comigo. E que como me sinto ao redor dessas pessoas é "feliz por ser querido". Senti "feliz por ser querido" tão poucas vezes na vida, e comecei a sentir isso só tão tarde, que apenas este mês comecei a entender que é esse sentimento de "feliz por ser querido".

Achei que eu só não tinha valor pros outros mesmo caso eu não quisesse fazer deles a prioridade absoluta da minha vida em todas as circunstâncias.

Cresci ao redor de gente narcisista, especialmente na minha família. Esse é o efeito que teve em mim. Gente que só ficava feliz caso eu sacrificasse tudo para agradá-las. Mas eu não queria me sacrificar por essas pessoas porque eu não achava que elas mereciam isso, depois de tanto me prejudicarem.

Me ensinaram que me sacrificar tanto pelos outros era "o certo", então pra demonstrar pra alguém que eu gosto muito da pessoa, era automaticamente a atitude certa pra mim sacrificar tudo o possível pra mostrar pra pessoa que eu gosto dela mesmo.

Foi isso que me ensinaram que eu preciso fazer pra fazer com que alguém se sinta amada: dar tudo de mim. Por isso que eu te dei tanto de mim para quem me envolvi, e por isso que pedi tanto.

Afinal, se esse era o único modo de amar, e não faziam isso por mim, então não me amavam! Ou talvez me amassem, e só precisassem ser ensinadas que este é o modo "certo" de assegurar a outra que você ama ela, ou no caso, a mim.


fonte da imagem: https://pixabay.com/pt/photos/abuso-viol%c3%aancia-problemas-%c3%a1lcool-4175864/

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